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Escrita

Publique aqui os seus textos. Poemas, estórias, memórias, ensaios breves, ou apenas o que lhe vai na alma!

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Era uma vez um burrinho, com enormes orelhas, pelo cinzento escuro, muito reluzente e uns olhos muito grandes e azuis que pareciam o mar. Vivia numa quinta, com enormes prados de ervinha muito verdinha. Era um burro feliz. Passava os seus dias junto à cerca da quinta a ver quem passava e a todos tinha por hábito saudar. Ió, Ió, dizia o burrinho, que na sua linguagem de burro mais não era do que um olá entusiasta. Todos lhe achavam graça e afagavam a sua enorme cabecinha numa espécie de agradecimento pela sua simpatia. As sua enormes orelhas moviam-se para trás e para a frente como se quisesse dizer eu sou feliz assim, sejam também e valorizem a vida que têm. O seu focinho parecia sorrir tornando-o aos olhos de quem passava, um burro simpático.
Do alpendre da casa, D. Teresa e Sr. José apreciavam o burro e sempre que lhes era permitido, pois as artroses já não permitiam, iam afagar o lombo do burrinho como forma de recompensa pelo carinho que este lhes dedicava. Um dia O Sr. Alfredo, parecia mais triste do que o habitual. O burrinho preocupado foi ter com ele e com as suas enormes orelhas ia dando torrinhas ao seu dono numa espécie de prémio de consolação pelo carinho e o amor com que sempre o trataram.
- Ai meu lindo burro, tu és muito jovem. Se eu fosse mais novo e as forças me deixassem, montava o teu lombo, levávamos a Teresa e ias os três ver o mar. D. Teresa sorria a ver o marido afagando o burro. Tia Teresa como carinhosamente era chamada interveio na conversa.
- Deixa lá homem...vamos em sonhos.
O burro percebeu, sabia o que era ter sonhos. Ele próprio os tinha e pensou: quem sabe um dia não sonho com uma fada que com a sua varinha mágica faz com que o Sr. José e a tia Teresa voem para o meu lombo. Assim não se cansariam e poderia leva-los a ver o mar. Que bom que seria pensou o burrinho e lançando alguns iós afastou-se e deitou-se debaixo de um sobreiro onde adormeceu e sonhou que estava na praia, não muito longe da quinta com os seus donos.
Quando acordou ficou sem perceber se teria sido um sonho ou realidade mas pelo sorriso rasgado dos seus donos pensou que a fada madrinha tinha feito parecer um sonho mas tinham estado os três na praia. Afinal sonhar leva-nos a tantos sítios. Os seus donos tão velhinhos continuavam a sonhar e como dizia o peta o sonho comanda a vida.
De facto devemos sonhar para concretizar ..até o burrinho sabia.

Publicado em: 19/05/2021 00:00:00 por Maria LúciaDuarte

Amar-te-ei depois de amanhã

Dentro, de mim, “Ela”, continua, acesa, umas vezes, com, mais intensidade, que outras, mas, “Está”, sempre acesa.
É, uma “Chama”, que, “Queima”, que, vagueia, por todo, o meu corpo, todo, o meu espírito, e, em toda, a, minha alma.
Confesso que logo nos primeiros instantes do seu Adeus, se tratasse de uma obsessão, mas na verdade, nunca foi isso que aconteceu, e a verdade é apenas uma…
“Amar-te-ei Depois de Amanhã”, diz tudo, não se pode apagar o que ficou gravado no meu coração, nem o vento conseguiu levar as palavras que guardo dentro do meu coração, nem os temporais, nem os Incêndios, da Madeira, nem as tragédias, da minha vida.
Nada nem ninguém alguma vez conseguirá arrancar dentro de mim o ser mais maravilhoso que conheci e que até aos dias de hoje permanece como um tesouro que guardo religiosamente.

Publicado em: 04/01/2021 00:00:00 por José Carlos dos Santos Porto

Sanguis

A seiva, tórrida e irada,
Sempiterna predestinada
Que pernoita o ser,
Há - de, ainda, falecer.

Falecerá sorumbática
Ah, se fosse errática
Seria eu mera feliz
Tal pequena aprendiz.

Aguardo, convicta,
Dr. Felicidade,
Efémera visita
Ainda que consinta a eternidade.


Bc.

Publicado em: 01/01/2021 00:00:00 por Bárbara Costa

O Tempo Apenas É

Já não escrevo há imenso tempo, pergunto-me o que terá morrido em mim. Sinto-me a deslizar pela camada do tempo. Tudo passa tão suavemente, sem atrito. Parece que o tempo nem se dá ao trabalho de ser trabalho, de ser difícil. Ao menos podia fingir, fingir que se importa com algum de nós. Mas apenas é. Há poucas coisas que apenas são. O tempo é uma delas. O tempo é um mistério, que nem sei porque tento resolver. Algo não palpável mas existente. Não as horas. Não confundam as horas com o tempo. Os dias com o tempo. Os anos com o tempo. As horas, os dias e os anos são apenas mais contruções humanas, para que tudo se torne um pouco mais compreensível à nossa escala. Mas o tempo, o tempo realmente existe e ninguém sabe o que ele é. Só sabemos que existe e é unidirecional. Que muda consoante a velocidade. Como se eu por deslizar mais rápido na pista tivesse direito a que ele abrandasse. E se for a luz a dançar nesta pista, o próprio tempo pára, como para admirar a sua beleza. A luz, o tempo, um vísivel, outro não. Ambos especiais. Feitos um para o outro, talvez. A luz vem, o tempo passa. A luz vai, o tempo passa. Como água num riacho que não pode voltar para trás. Será que não pode ou não quer? Será o seu trabalho estabelecer a ordem num mundo já demasiado complexo? Se callhar é para isso mesmo que o tempo existe, para estabelecer ordem. Daí a sua autoridade e o medo que provoca em todas as pessoas como eu. Deixa-me controlar! Porque não me deixas controlar? O que me estás a fazer? Eu sei que nem sabes quem sou, nem sabes o que sou, nem onde sou, nem sabes o que são palavras. Só sabes que apenas és. E só isso importa para ti. Espero que tenhas uma boa razão de ser. Porque eu também preciso disso.

Publicado em: 25/08/2020 00:00:00 por Arthur

Palco

Há gente que não diz o que sente,
Quando sente.
Quando não sentem,
Chegam a dizer que sentem
Apenas para sentir
Que a falsa humanidade é algo construtivo.
Quando sentem o que não queriam sentir,
São atores,
Bem feitores,
Sem repararem
No que já está destruído.
E é a rir, que vão partir
Para o palco dos parcos amores.

Publicado em: 25/10/2019 00:00:00 por Helga Lima

O Homem Que Nunca Usava Guarda-Chuva

Estava um bonito dia de verão em que ninguém usava guarda-chuva. Eu tinha acabado de sair do metro para ir trabalhar e, vou ser honesto, nestes dias só quero ficar em casa. O sol ilumina suavemente as ruas. Os passarinhos não param de cantar. As pessoas esboçam um sorriso diferente dos restantes dias. Há uma aura de paz e tranquilidade pela cidade. É como se tudo estivesse como deveria estar. Pergunto-me o que este dia fez para merecer mais do que todos os outros. Se trabalhou mais. Se implorou mais. Mas é só um dia. Apenas existe como todos os outros dias apenas existem. Como de costume, eu não trouxe guarda-chuva. No entanto, estou com sorte porque, nesta altura do ano, ninguém me costuma lançar olhares de desaprovação ou pena. No inverno sou sempre enchuvalhado de perguntas. ' Porque não usa guarda-chuva?' ' Quer abrigo? ' ' O senhor está perdido? ' - E, acreditem, esta última é bastante frequente. Costumo simplesmente responder amigavelmente que está tudo bem e agradeço pela preocupação. A verdade é que nunca gostei de guarda-chuvas. Quando os vejo, arrepio-me. Tento sempre desviar o olhar. Eu sei o que estão a pensar, também acho isso estranho e não faço a mínima ideia qual é a razão de os desprezar tanto. Mas o que me irrita ainda mais é que quando chove é examente quando me apetece sair de casa e vaguear pela cidade. É quando tenho mais motivação para ir trabalhar. É quando tenho vontade de pegar nos ténis e ir correr. Costumo ir até a um rio pequenito que existe perto de minha casa. Demoro cerca de 7 minutos a pé a chegar lá. É um sítio cheio de àrvores bastante agradável e nos dias de verão, como seria de esperar, está empinhado de gente. No entanto, quando vou lá no inverno aquilo é de uma tranquilidade inimaginável. O mais difícil são mesmo os 7 minutos de caminho até lá. Já pensaram o que é ser uma pessoa que adora sair de casa no inverno mas tem guarda-chuvo-fobia? Não faltam pessoas a passarem com os seus queridos guarda-chuva pelo caminho - uns pretos, uns castanhos com a marca de uma farmácia desconhecida, uns rosa às bolinhas e, claro, os típicos coitados com uma ou duas hastes partidas. De qualquer maneira, é certo que encontro pelo menos uma pessoa que transporta aquela atrocidade. Não me interpretem mal, não é que os guarda chuvas em si sejam uma atrocidade. Alguns até são bem jeitosos. Atrocidade é o que eles representam.

Publicado em: 13/10/2019 00:00:00 por Arthur

Falácia

A falácia é um passo errado,
Um passo dado sem cuidado,
É pegar num conceito verdadeiro,
E com ele não ser certeiro.

Falácia é não atender,
À amplitude do pensamento,
E muitas vezes querer estender,
O que o particular tem dentro.

Falácia é jogar errado,
Entre as universais e os particulares,
Porque nem sempre pode ser estendido,
O raciocínio obtido,
Com uma extensão de pequena amplitude,
Pode ganhar uma grande magnitude.

Falácia vai confrontar com a verdade,
Nas premissas pega de modo desajustado,
E quando confrontada com a realidade,
Percebe-se que raciocínio, está errado.

Publicado em: 03/04/2019 00:00:00 por Augusto Filipe Gonçalves

Vai um café?

Um grão de café,
Tanta coisa faz desenvolver,
Depois de triturado e moído,
Causa agrado ao ser bebido,
Muita conversa faz discorrer.
Oh tanta sensação,
Oh tanta emoção,
O libertador do coração,
Uma conversa analítica,
Sobre a atividade política,
Um acorde da guitarra,
Que é dada com vigor e garra,
Aquela letra que faz recordar,
Aquele verão na beira do mar,
Foram beijos trocados,
Alguns de circunstância,
Com elegância,
Mas outros, ah outros não,
Eram dados com paixão,
Sentados, deitados,
Na areia enrolados,
Depois da excitante bebida,
Que fora apreciada,
Ao som daquela batida,
Naquele café!

Publicado em: 25/03/2019 00:00:00 por Augusto Filipe Gonçalves

Leitor é magnanime

Apetece-me escrever,
Escrever faz-me viver,
Sentir-me útil,
Sentir-me capaz,
Com capacidade,
Com agilidade,
Mental e espiritual,
Sinto-me diferente,
Não direi inteligente,
Porque elogio vindo do seio,
Vindo de mim, mesmo do meio,
Da minha capacidade,
Tem sempre distorcida a realidade,
Porque não sei ser isento,
Deixo-me ir com o vento,
Com uma obra por mim criada,
A imparcialidade fica bastante deturpada,
Aí vem o leitor de verdade,
Que vem ou não,
Compartilhar a paixão,
Ou até mesmo a dor,
Ou simplesmente dizer-me não,
Não és poeta, nem escritor.

Publicado em: 25/03/2019 00:00:00 por Augusto Filipe Gonçalves

Zoom

Um dia, todo mundo foi neném

Usain Bolt não sabia andar
Pelé e Cristiano Ronaldo aprenderam primeiro a rolar
Todos caíram um pouquinho
Até dar o primeiro passinho

Jamie Oliver não sabia mastigar
Descobriu a primeira fruta antes de engatinhar
René Redzepi, Bertílio Gomes e Alex Atala
Beberam leite antes de descobrir a sálvia

A primeira frase que Johnny Depp pôs-se a pronunciar
Não foi de Lewis Carroll nem de Simone de Beauvoir
Ewan Mcgregor disse: mamãe
Natalie Portman: alemães

A primeira pintura de Velásquez foi com o pé
Las meninas só existiu por muita fé
Van Gogh, Cézanne e Frida Kahlo
Pintaram o sete antes de qualquer quadro

Roberto Gómes Bolaños não sabia ler
Quando Woddy Allen veio a nascer
Esopo, Beatrix Potter e Salomão
Sentaram para ouvir histórias, assim como Platão

Maria Callas não sabia cantar
Quando ouvia músicas de ninar
Luciano Pavarotti e Carmen Miranda
Primeiro aprenderam músicas de ciranda

A primeira vez que Beethoven fez uma composição
Não foi a sonata para piano a quatro mãos
Vivaldi, Liszt e Mozart quando nasceram
Choraram tão alto que parecia um lindo concerto

A primeira vez que Galileu fez uma descoberta
Foi que seus lindos dedinhos podiam tocar a testa
Einstein, Arquimedes e Isaac Newton
Tiveram infância antes de inventar qualquer prurido

Um dia, todo mundo foi ninguém

Se você fizer apenas o que sabe, nunca saberá mais do que sabe agora também

Publicado em: 30/01/2019 00:00:00 por Maria Gisele Knust
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